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Funcionários de supermercado são suspensos após auditoria migratória em Massachusetts
Publicado em 29/07/2025 11:34
Imigração

Cerca de 48 funcionários da rede de supermercados Market Basket, na cidade de New Bedford, Massachusetts, foram suspensos na última semana após uma auditoria migratória conduzida por autoridades federais. A informação foi confirmada por Adrian Ventura, diretor executivo do Centro Comunitário de Trabalhadores, uma organização sem fins lucrativos que atua em defesa dos imigrantes na região.

Segundo um porta-voz da Market Basket, as suspensões estão relacionadas a uma investigação do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) iniciada em 2023. A empresa informou que os trabalhadores poderão ser reintegrados assim que regularizarem sua documentação de trabalho.

A auditoria, conhecida como inspeção I-9, exige que empresas apresentem os formulários de verificação de elegibilidade de emprego de seus funcionários. Esses documentos são analisados por agentes do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) para verificar se os trabalhadores estão legalmente autorizados a exercer atividades profissionais no país.

De acordo com Ventura, a auditoria havia sido suspensa anteriormente pelo Departamento do Trabalho dos EUA, mas foi retomada recentemente. Ele relatou que os funcionários foram convocados para uma reunião com a gerência da loja, após a presença de agentes do ICE ser notada no estacionamento. Embora os agentes não tenham entrado no estabelecimento, o encontro resultou na solicitação de documentos de autorização de trabalho, e vários trabalhadores foram suspensos por não apresentarem documentação válida.

Ventura explicou que muitos dos funcionários afetados possuíam autorizações válidas quando foram contratados, mas os documentos expiraram com o tempo. Ele também destacou que não está claro se alguns deles tinham status de Proteção Temporária (TPS), um benefício legal que foi revogado para diversos países durante o governo Trump.

A situação tem gerado preocupação entre os trabalhadores, muitos dos quais atuam na loja há mais de uma década. “Há mães solteiras com três ou quatro filhos. Uma delas teve o marido deportado após uma batida migratória em uma obra. Agora, ela está em um limbo. É um desastre completo”, disse Ventura, em entrevista concedida em espanhol.

A prefeitura de New Bedford não comentou diretamente as suspensões, mas um porta-voz afirmou que o prefeito Jon Mitchell defende que a aplicação das leis migratórias federais se concentre em indivíduos que representem riscos à segurança pública.

Estima-se que cerca de 200 mil imigrantes indocumentados vivam em Massachusetts, sendo aproximadamente 10 mil apenas na região de New Bedford. A cidade, com pouco mais de 100 mil habitantes, tem cerca de 20% de sua população composta por estrangeiros. Muitos trabalhadores imigrantes locais são originários da América Central, América do Sul e Cabo Verde, e desempenham papel fundamental na indústria pesqueira — um dos pilares da economia local.

Ventura alertou que, se as auditorias se intensificarem, os impactos podem ser devastadores não apenas para os imigrantes, mas para toda a cidade. “Existe um ditado: ‘Tire a água e o peixe morre’. Se começarem a aplicar auditorias I-9 em todas as empresas daqui, será um desastre completo para New Bedford”, afirmou.

A cidade já viveu um episódio marcante em 2007, quando mais de 300 imigrantes indocumentados foram detidos em uma fábrica de roupas durante a maior operação migratória da história recente do estado.

O advogado de imigração Matthew Maiona, com escritório em Boston, explicou que auditorias I-9 — também chamadas de “batidas silenciosas” — não são novidade, mas se tornaram mais frequentes desde o início do governo Trump. Segundo ele, essas inspeções geralmente são motivadas por denúncias externas ou investigações internas, e exigem que os empregadores apresentem todos os formulários I-9 para análise.

Embora não esteja envolvido diretamente no caso da Market Basket, Maiona acredita que a empresa não agiu de má-fé, mas foi pega no meio de políticas migratórias cada vez mais rígidas. “Há trabalhadores com autorizações temporárias, pedidos de asilo pendentes ou ações diferidas, mas muitos desses programas estão sendo descontinuados. Isso coloca uma carga enorme sobre os empregadores”, afirmou.

Ele também destacou que o governo Trump destinou bilhões de dólares para reforçar a fiscalização migratória, incluindo US$ 45 bilhões para expandir o sistema de detenção do ICE e outros US$ 30 bilhões para operações de prisão e deportação. “Não acho que a situação vá melhorar tão cedo. Pelo contrário, deve piorar ainda mais”, concluiu.

Foto: Internet

Fonte: Boston Globe

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